A morte e seus mistérios
Meu avô morreu há nove anos e uma das coisas que mais tenho medo é de esquecer o rosto dele. Parece meio bobo em um primeiro instante e, sim, existem fotos para recordar, mas com o passar dos anos acabamos esquecendo dos detalhes, daquele olhar que fazia a diferença, do sorriso, dos cabelos, da cor da pele e das mãos já enrugadas. Já não tenho mais com total clareza na minha mente a sua face e nos últimos tempos a saudade vem aumentando.
Lembro da música que ele mais gostava que eu cantasse pra ele e há dias em que do nada ele volta ao meu pensamento. Embora nossa convivência não tenha sido diária, sinto falta do meu avô. E a cada ano parece que o sentimento fica mais forte. Pode ser pela certeza de que ainda resta bastante tempo para revê-lo ou pela culpa de não visitar o local em que ele está sepultado.
A morte é algo, no mínimo, estranho. Muitos dizem que ela é a única certeza que temos na vida. Mas nem sempre é possível compreender o motivo que leva algumas pessoas a morrerem jovens, outras muito velhas e, ainda, aquelas que resolvem se matar. Tenho medo de morrer. Sempre tive. Deve ser herança da minha mãe, que sente o mesmo. Admito que embora saiba que precise estar preparada, não sei como será no dia em que perderei meus pais. Não sei e prefiro nem saber.
Nem vou entrar na questão de “para onde vamos quando morremos” porque a resposta depende da crença de quem está lendo este texto. Mas cada dia me convenço mais de que a vida é muito curta e de que é preciso dizer para as pessoas que amamos o quanto elas são especiais em nossas vidas. Sem vergonha de revelar sentimentos, mas com a certeza de que, se amanhã esta pessoa morrer, saberá que tinha ao seu lado alguém que a amava muito.